Zeólitos de Portugal

Lisboa / Monchique / Ilha da Madeira 

Lomba dos Pianos, Magoito – Maio de 2018
Lomba dos Pianos, Magoito – Maio de 2018

Introdução

Zeólitos de Portugal é uma breve introdução aos principais locais de Portugal onde algumas Rochas apresentam zeolitização ou na sua génese incluem Zeólitos.

Fig-1 – Mapa geológico simplificado da zona de Lisboa.
Fig-1 – Mapa geológico simplificado da zona de Lisboa.

A principal área onde algumas rochas apresentam características de zeolitização pertence ao complexo vulcânico de Lisboa, onde a atividade ígnea se desenvolveu pela abertura do Atlântico Norte. O complexo vulcânico de Lisboa cobre uma extensão de cerca de 200 km2 entre Lisboa, Sintra, Mafra e Runa. Está instalado entre o Cretáceo superior e o Eoceno inferior, há 72 milhões de anos. Apresenta vários tipos de estruturas (chaminés, drenos, soleiras, diques, etc.) e rochas (basaltos, piroclásticos, brechas, traquitos, etc.). Predomina em geral basaltos, gabros e alguns vulcanitos. Existem vários locais onde a zeolitização se desenvolveu através de vários fatores químicos entre a ascensão da rocha ígnea e o contato com o calcário do Cretáceo. Conforme a Fig-1, todas as áreas de contato entre as cores vermelha (Gabros / Basaltos / Doleritos) e azul (Calcários), eventualmente conduzem à pesquisa de zeólitos. Em referência aos locais onde foi assinalada a zeolitização, pode-se dizer que este fenómeno abrange toda a área à volta de Lisboa com destaque.

 1- Magoito / São João das Lampas, 2- Oeiras, 3- Loures.

1 - Magoito

Lomba dos Pianos - Novembro de 2013
Lomba dos Pianos - Novembro de 2013
Coluna de Dolerito - 5/2018
Coluna de Dolerito - 5/2018

Um local clássico e com destaque neste complexo é a Lomba dos Pianos onde Doleritos em forma de soleiras emergem a norte de Sintra entre as praias de Samarra e Magoito. Apresentam-se com a distância de 3 km junto das falésias acima do nível do mar e com espessura máxima de 20 metros. Neste local as rochas exibem uma curiosa disjunção colunar, lembrando órgãos de igreja e daí o nome "Lomba dos Pianos". Os Doleritos em certos sítios apresentam áreas de intensa zeolitização, com estruturas globulares e radiadas de cores brancas e laranja, as quais foram identificadas de Natrolite e Thomsonite. Em tempos funcionou até ao início dos anos 80 uma pedreira neste local (hoje completamente aterrada). Presentemente ainda é possível recolher algumas amostras, porém é bastante perigoso o acesso à mineralização nas falésias, assim como o acesso ao local está limitado, pois a área entretanto foi toda vedada.

 Falésias dos Pianos, Magoito – Abril de 2006
Falésias dos Pianos, Magoito – Abril de 2006
Doleritos colunares - Novembro de 2013
Doleritos colunares - Novembro de 2013
Lomba dos Pianos - (Vista sobre o Mar) - Maio de 2018
Lomba dos Pianos - (Vista sobre o Mar) - Maio de 2018
Dolerito zeolitizado - Abril de 2006
Dolerito zeolitizado - Abril de 2006
Flora local - Maio de 2018
Flora local - Maio de 2018
Prospeção - Maio de 2002
Prospeção - Maio de 2002
Flora local - Maio de 2018
Flora local - Maio de 2018

Mineralogia

Natrolite/Thomsonite "In Situ" - Abril de 2006
Natrolite/Thomsonite "In Situ" - Abril de 2006

Ao longo dos anos fui recolhendo várias amostras com destaque para a Natrolite, Thomsonite, Analcima, Stilbite, Heulandite, Smectite e Calcite. A zeolitização mais comum da Lomba dos Pianos é a associação em epistaxe maciça e radiada de Natrolite de cor rosada  com Thomsonite branca.

Natrolite, Thomsonite-Ca "epistaxe" - 4x3x2cm
Natrolite, Thomsonite-Ca "epistaxe" - 4x3x2cm
Natrolite, Smectite - 4,5x2x2cm
Natrolite, Smectite - 4,5x2x2cm
Natrolite sobre Analcima - 4x2,5x2cm
Natrolite sobre Analcima - 4x2,5x2cm
Natrolite, Thomsonite-Ca, Smectite - 11x5x5cm
Natrolite, Thomsonite-Ca, Smectite - 11x5x5cm

A Natrolite - Na2Al2Si3O10 · 2H2O - apresenta-se nas cavidades do Dolerito em grupos prismáticos capilares, incolores ou levemente rosados sobre Thomsonite ou Analcima acompanhando às vezes Calcite e Smectite. É comum os cristais de Natrolite penetrarem a Analcima e a Calcite.

Thomsonite-Ca - 8x6,5x2,5cm
Thomsonite-Ca - 8x6,5x2,5cm
Thomsonite-Ca - 12x5x3cm
Thomsonite-Ca - 12x5x3cm
Thomsonite-Ca, Augite - 4x2x2cm
Thomsonite-Ca, Augite - 4x2x2cm
Thomsonite-Ca - 14x10x1cm
Thomsonite-Ca - 14x10x1cm

A Thomsonite-Ca - NaCa2[Al5Si5O20] · 6H2O - quando isolada torna-se estética, apresentando-se em placas, grupos radiados ou globulares e quimicamente é rica em cálcio.

Analcima sobre Calcite - 4x4x2cm
Analcima sobre Calcite - 4x4x2cm
Analcima, Calcite, Natrolite - 7x4x3cm
Analcima, Calcite, Natrolite - 7x4x3cm
Analcima, Natrolite - 3,5x3cm
Analcima, Natrolite - 3,5x3cm
Analcima - 4x3x2cm
Analcima - 4x3x2cm

A Analcima - Na(AlSi2O6) · H2O - apresenta-se em cavidades no encosto entre o Dolerito e o Calcário em agrupamentos de cristais com a configuração de trapezohedro e geralmente acompanha com Natrolite, Calcite, Smectite e mais raramente com Stilbite. 

Heulandite - 5x4,5x4cm
Heulandite - 5x4,5x4cm
Heulandite - cristal com 12mm
Heulandite - cristal com 12mm
Heulandite, Calcite - 5x3cm
Heulandite, Calcite - 5x3cm
Heulandite, Calcite - 6x4x4cm
Heulandite, Calcite - 6x4x4cm

A Heulandite - (Ca,Na)5(Si27Al9)O72 · 26H2O - é menos comum na Lomba dos Pianos e presentemente este zeólito dificilmente é encontrado nas falésias. As representações conhecidas foram recolhidas no início da década de 80, quando a pedreira no local ainda estava ativa. Desenvolve prismas de simetria (010) até 1cm e quase sempre acompanha com Calcite e mais raramente com Stilbite.

Stilbite, Analcima - 3x2,5cm
Stilbite, Analcima - 3x2,5cm
Stilbite - cristal com 10mm
Stilbite - cristal com 10mm
Stilbite, Analcima - 6x3x2cm
Stilbite, Analcima - 6x3x2cm
Stilbite - 7x4x1,5cm
Stilbite - 7x4x1,5cm

A Stilbite - NaCa4(Si27Al9)O72 · 28H2O - é uma raridade na Lomba dos Pianos e presentemente este zeólito dificilmente é encontrado nas falésias. As representações conhecidas foram recolhidas no início da década de 80, quando a pedreira no local ainda estava ativa. Apresenta-se com uma cor laranja vivo com cristais característicos até 1cm e normalmente acompanha a Analcima.

Smectite, Natrolite, Thomsonite-Ca - 7x5cm
Smectite, Natrolite, Thomsonite-Ca - 7x5cm
Smectite, Natrolite, Thomsonite-Ca - 10x7x5cm
Smectite, Natrolite, Thomsonite-Ca - 10x7x5cm

A Smectite é um grupo de minerais das argilas onde se inclui a Saponite com a fórmula química - Ca0.25(Mg,Fe)3((Si,Al)4O10)(OH)2 · nH2O, a qual por norma acompanha nos fenómenos de Zeolitização. Aqui apresenta-se em grânulos num tom cinzento azulado que contrasta esteticamente muito bem com a Natrolite e a Thomsonite. 

Calcite, Heulandite - 7x4cm
Calcite, Heulandite - 7x4cm
Calcite - 5x4cm
Calcite - 5x4cm

A Calcite - CaCO3 - é um carbonato de cálcio que normalmente acompanha os fenómenos de zeolitização. Na Lomba dos  Pianos não é exceção e acompanha normalmente com Natrolite, Analcima e Heulandite.

1 - São João das Lampas

Recolha de Zeólitos - Novembro de 2013
Recolha de Zeólitos - Novembro de 2013
Cavidade "in situ" com 10cm - Novembro de 2013
Cavidade "in situ" com 10cm - Novembro de 2013

Perto do Magoito em São João das Lampas os Basaltos apresentam alguma zeolitização, a qual é visível em alguns taludes na estrada de São João perto da povoação. A zeolitização é amigdaloide e escassa com pequenas cavidades de cristais milimétricos bastante interessantes, contudo a recolha requer um trabalho árduo com utilização da marreta. 

Basalto com amígdalas - Novembro de 2013
Basalto com amígdalas - Novembro de 2013
Afloramento de Basalto zeolitizado - Novembro de 2013
Afloramento de Basalto zeolitizado - Novembro de 2013

Aqui os zeólitos estão normalmente incorporados dentro de calcite a qual preenche completamente as amígdalas mais pequenas, sendo necessário utilizar HCL para desalojar a Calcite e visualizar os silicatos. As cavidades maiores normalmente estão forradas por cristais milimétricos de Thomsonite avermelhada com a configuração prismática clássica em palhetas.

Mineralogia

Natrolite, Thomsonite - 15x10mm
Natrolite, Thomsonite - 15x10mm

As amostras recolhidas com mineralização são: Natrolite, Thomsonite, Analcima, Epistilbite? Smectite e Calcite. A cristalização está dentro do critério do Micromount, sendo necessário o auxílio do microscópio para estudar os edifícios cristalinos. 

Natrolite, Thomsonite - 12x10mm
Natrolite, Thomsonite - 12x10mm
Natrolite, Thomsonite - 10x10mm
Natrolite, Thomsonite - 10x10mm
Natrolite - 4x4x3cm
Natrolite - 4x4x3cm
Natrolite - 20x20mm
Natrolite - 20x20mm

A Natrolite normalmente cobre o interior das cavidades e forma epistaxe com Thomsonite ou Epistilbite ? Apresenta-se em glóbulos radiais com tonalidades róseas, brancas e também em grupos prismáticos incolores com formação posterior à Thomsonite. Acompanha normalmente Calcite, Analcima ou Smectite. 

Thomsonite - 4x3x2cm
Thomsonite - 4x3x2cm
Thomsonite - 2x1,5cm
Thomsonite - 2x1,5cm

A Thomsonite está bem representada neste local e apresenta-se em grupos prismáticos de lâminas retangulares características neste mineral. Esta cristalização em palhetas é clássica na Thomsonite, o que não se verifica com as amostras da Lomba dos Pianos ou de Valejas com aspeto radial e cores claras. Aqui ela apresenta-se em tons avermelhados e raramente mais clara. Acompanha às vezes com Analcima ou Calcite.

Analcima - 5x4x3cm
Analcima - 5x4x3cm
Analcima - 4x4x3cm
Analcima - 4x4x3cm

A Analcima nesta localização ocorre em drusas de cristais até 2,5mm de cor branca ou incolor e geralmente acompanha Calcite, Natrolita, Thomsonita e Smectite. Destaca-se principalmente em cavidades com Smectite.

Epistilbite ? - 2x1,5cm
Epistilbite ? - 2x1,5cm
Epistilbite ? - 5x4x3cm
Epistilbite ? - 5x4x3cm

A Epistilbite ? - CaAl2Si6O16 · 5H2O - desta localização confunde-se com a Thomsonite no aspeto cristalográfico. Apresenta-se em grupos prismáticos de lâminas retangulares como a Thomsonite, com a diferença dos cristais terminarem em cunha e estarem mais dispersos. A coloração é mais clara que a da Thomsonite e varia entre creme e incolor. A identificação é visual através do microscópio e requer uma identificação através de análise química.

Smectite, Analcima - 3x2x2cm
Smectite, Analcima - 3x2x2cm
Smectite, Analcima - 10x6x4cm
Smectite, Analcima - 10x6x4cm

2 - Oeiras

Valejas - Ribeira do Jamor - Novembro de 2012
Valejas - Ribeira do Jamor - Novembro de 2012
Valejas - Afloramento de Basalto - Novembro de 2012
Valejas - Afloramento de Basalto - Novembro de 2012

O concelho de Oeiras no distrito de Lisboa pertencente ao complexo vulcânico de Lisboa e ao longo do tempo na construção de várias estruturas rodoviárias, permite por vezes serem descobertas algumas rochas mineralizadas com zeólitos. Neste contexto existe um local interessante próximo de Valejas onde o basalto se apresenta em blocos e almofadas com textura microscópica e zeolitizado. 

Valejas - Almofadas de Basalto - Novembro de 2012
Valejas - Almofadas de Basalto - Novembro de 2012
Basalto zeolitizado - Novembro de 2012
Basalto zeolitizado - Novembro de 2012

Esta faixa zeolitizada tem aproximadamente 800x30 metros e inicia a jusante da ponte de Valejas da ribeira do Jamor com o sentido mais ou menos NNE-SSW. É atravessada pela estrada de Queluz nº 117 junto da povoação. As cristalizações com zeólitos encontram-se em grupos amigdaloides em que nódulos com mais de 5cm são raros. A mineralização contém basicamente cristalização de Analcima, Natrolite, Thomsonite, Calcite e Smectite. 

Mineralogia

Valejas - Nódulos com zeólitos - Novembro de 2012
Valejas - Nódulos com zeólitos - Novembro de 2012
Analcima, Natrolite - 2x1,5cm
Analcima, Natrolite - 2x1,5cm
Analcima, Natrolite - 9x5cm
Analcima, Natrolite - 9x5cm

A Analcima de Valejas tem mais "corpo" em comparação com a Analcima da Lomba dos Pianos e apresenta-se por vezes levemente rosada com a simetria clássica em trapezoedro. Preenche as paredes ou todo o espaço dos nódulos com calcite. Quase sempre acompanha com Natrolite e às vezes com Thomsonite e Smectite

Analcima, Natrolite, Calcite - 10x7x4cm
Analcima, Natrolite, Calcite - 10x7x4cm
Natrolite, Analcima - 4x3cm
Natrolite, Analcima - 4x3cm

A Natrolite apresenta-se em prismas aciculares e acompanha Analcima, Calcita ou Thomsonite, e por vezes, está revestida com Smectite. Em nódulos menores pode apresentar-se com cristais entrecruzados.

Natrolite, Thomsonite-Ca - 3x1,5mm
Natrolite, Thomsonite-Ca - 3x1,5mm
Natrolite, Analcima, Smectite - 2x1,5cm
Natrolite, Analcima, Smectite - 2x1,5cm
Natrolite - Queijas - 9x6x2cm
Natrolite - Queijas - 9x6x2cm
Natrolite - Queijas - 8x6x4cm
Natrolite - Queijas - 8x6x4cm

Em Queijas, perto de Valejas quando foram feitas as estruturas rodoviárias de acesso ao Estádio Nacional, ficaram descobertas algumas cavidades com Natrolite rosa.


3 - Loures

(Wikipédia) – Cabeço de Montachique, Loures.
(Wikipédia) – Cabeço de Montachique, Loures.

O complexo vulcânico de Lisboa tem uma representatividade notável no concelho de Loures com os basaltos do Cabeço de Montachique. Na vizinhança da povoação de Salemas no concelho de Loures laborou em tempos uma pedreira de calcário no contacto com os basaltos onde é possível verificar zeólitos. A zeolitização local insere-se em brechas vesiculares de origem vulcânica, as quais também se podem observar em corte de estrada na localidade da Ramada em St. António dos Cavaleiros. Esta rocha é rica em pequenas cavidades forradas com Smectite sobre a qual apresenta cristalizações milimétricas alaranjadas de Heulandite-Ca, Chabazite e Ferrierite-Mg.

Mineralogia

Heulandite-Ca, Smectite - 5x4x2,5cm
Heulandite-Ca, Smectite - 5x4x2,5cm
Heulandite-Ca, Smectite - 3,5x3x1,5cm
Heulandite-Ca, Smectite - 3,5x3x1,5cm

A Heulandita-Ca apresenta-se sobre Smectite -(Saponite ?) em grupos de cristais brilhantes até 2,5 mm com uma bela cor alaranjada. 

Ferrierite-Mg - 10x0,5mm
Ferrierite-Mg - 10x0,5mm

Monchique

(Wikipédia) - Maciço Eruptivo de Monchique
(Wikipédia) - Maciço Eruptivo de Monchique

Outro local com alguns zeólitos representativos é mais a sul no Algarve junto do Maciço Eruptivo de Monchique. Este Maciço é intrusivo e alcalino por natureza. A sua atividade teve início há 72 milhões de anos com a abertura do Atlântico Norte no Cretáceo e cobre uma área de 80km2. É constituído quase inteiramente por rochas nefelino-sieníticas, veios aplito-pegmatitos nefelínicos, diques e veios compostos essencialmente por sienito, brechas e gabros ígneos. A intrusão do Maciço causou um halo de contato metamórfico de corneanas com uma largura de 200 metros.

Geologia

Mapa Geológico do Maciço Eruptivo de Monchique
Mapa Geológico do Maciço Eruptivo de Monchique

As rochas sieníticas são compostas essencialmente pelos seguintes minerais principais: Feldspato alcalino, Nefelina, Piroxena e Mica. Os sienitos são rochas bastante densas e pobres em cavidades. Por vezes em veios de pegmatito, aparecem algumas cavidades com cristalizações de Analcima, Natrolite, Gonnardite, Fluorite, Calcite, Aegirina, Ancylite, Calcopirite, Magnetite, Pirite, Pirrotite, Galena, Sodalite e Zircão. De todos estes minerais os mais notáveis são os do grupo dos zeólitos como a Natrolite, a Gonnardite e a Analcima que se apresentam com cristalizações mais desenvolvidas e acentuadas. O estudo e recolha destes minerais fez-se através das pedreiras do Lugar da Nave (ativa) e da Palmeira, (encerrada), ambas localizadas perto de Monchique e que exploram os Sienitos.

Localização

Localização por Satélite das Pedreiras da Nave e Palmeira
Localização por Satélite das Pedreiras da Nave e Palmeira

O acesso às pedreiras da Nave e da Palmeira faz-se através da N266 entre Monchique e Caldas de Monchique no Lugar da Nave. A pedreira da Palmeira está encerrada por motivos ambientais e localiza-se um pouco mais a sul da pedreira da Nave.

Pedreira da Nave

(Wikipédia) - Pedreira da Nave - Vista aérea
(Wikipédia) - Pedreira da Nave - Vista aérea
Pedreira da Nave - Sienitos - Setembro de 2007
Pedreira da Nave - Sienitos - Setembro de 2007
Pedreira da Nave - Perfuração - Setembro de 2007
Pedreira da Nave - Perfuração - Setembro de 2007
Pedreira da Nave - Britadeira - Setembro de 2007
Pedreira da Nave - Britadeira - Setembro de 2007

Mineralogia

Analcima - Cristal com 2cm
Analcima - Cristal com 2cm
Analcima - 3x2x1,5cm
Analcima - 3x2x1,5cm

A Analcima destaca-se dos demais minerais pelo tamanho dos cristais que podem atingir mais de 1cm. Os cristais são característicos e normalmente apresentam-se em grupos numa cor branca ou levemente coloridos em cinzento rosa translúcido. Acompanha Feldspato alcalino, Natrolite e Aegirina.

Natrolite, Gonnardite - 6x3x2cm
Natrolite, Gonnardite - 6x3x2cm
Natrolite, Gonnardite - 4x2x1cm
Natrolite, Gonnardite - 4x2x1cm

A Natrolite / Gonnardite da pedreira do Lugar da Nave apresenta-se em geodes com cristais prismáticos até 10cm, revestindo totalmente as cavidades. Forma epistaxe com a Gonnardite através da camada externa dos cristais com cor branca. O interior incolor dos cristais é de Natrolite. Com a desidratação os cristais vão-se tornando progressivamente em Gonnardite com a desvantagem das amostras se destruírem ao toque.

Natrolite - 6x3x3cm
Natrolite - 6x3x3cm
Natrolite - Cristal com 4mm
Natrolite - Cristal com 4mm

A Natrolite recolhida nesta pedreira em 1976, apresenta cristais com prismas curtos translúcidos até 0,5 cm e com a simetria bem definida.

Pedreira da Palmeira

(Wikipédia) - Pedreira da Palmeira - Vista aérea
(Wikipédia) - Pedreira da Palmeira - Vista aérea
(Wikipédia) - Pedreira da Palmeira
(Wikipédia) - Pedreira da Palmeira

Mineralogia

Analcima, Natrolite, Pirite - 5x3x3cm
Analcima, Natrolite, Pirite - 5x3x3cm
Analcima, Natrolite - 3,5x3x2cm
Analcima, Natrolite - 3,5x3x2cm
Analcima, Estroncianite, Pirite - 4x3x2,5cm
Analcima, Estroncianite, Pirite - 4x3x2,5cm
Analcima, Estroncianite, Pirite - 4x2,5x2,5cm
Analcima, Estroncianite, Pirite - 4x2,5x2,5cm

Os exemplares com Analcima recolhidos em Novembro de 2009 na pedreira Palmeira nº 2 foram objeto de estudo e revelaram alguns minerais acessórios como a Estroncianite, Pirite e outros mais raros como a Gaidonnayite, Burbankite e Hilairite.

Natrolite - 12x7x6cm
Natrolite - 12x7x6cm
Natrolite - cristal com 17mm
Natrolite - cristal com 17mm

A Natrolite da pedreira da Palmeira foi recolhida em Novembro de 2009 de uma pequena cavidade, apresentando-se em grupos de cristais prismáticos alongados e incolores com dois estágios de crescimento distintos.

Ilha da Madeira

Ilha da Madeira - Credito Turismo da Madeira
Ilha da Madeira - Credito Turismo da Madeira

Introdução

O arquipélago da Madeira é formado pelas ilhas da Madeira, Porto Santo, Desertas e Selvagens. Situam-se no Oceano Atlântico a 560Km da costa de Marrocos. A ilha da Madeira é reconhecidamente um destino turístico de excelência a nível mundial. O arquipélago tem formação geológica de origem vulcânica e neste aspeto a Madeira apresenta localmente alguns fenómenos de zeolitização até então desconhecidos e que vieram a publico em 2022 com a recolha de amostras e posterior estudo e análise pelo Dr. Pedro Alves.

Geologia

Formação e evolução geológica do arquipélago da Madeira 

Mapa geológico simplificado - João Mata
Mapa geológico simplificado - João Mata

B1 = de 5,2 a 2,5 Ma

B2,B3 e B4 = de 2,5 a 1 Ma

B5 e B6 = menos de 1 Ma

(Ma = milhões de anos)

   A origem vulcânica da Madeira é bem visível em locais como o anfiteatro montanhoso em redor da cidade do Funchal, cujo vestígio é uma antiga caldeira de um vulcão entretanto extinto. A ilha é extremamente acidentada, com desníveis topográficos acentuados e picos que atingem os 1862 m de altitude.

O Arquipélago da Madeira teve início há milhões de anos com a expansão do Atlântico provocado pelo movimento das Placas Tectónicas. Neste movimento, o manto avança vários centímetros por ano contra a Placa Tectónica Africana, onde vão ocorrendo erupções com ascensão de magma proveniente de pontos quentes "hot spots" e que deram origem aos arquipélagos no Oceano Atlântico incluindo o da Madeira. Neste movimento, quanto mais próximo o arquipélago está do Continente Africano, mais antigo será. Daqui a alguns milhares de anos neste movimento geológico impercetível, desaparecerão sob este Continente. O Arquipélago da Madeira é formado por três edifícios vulcânicos temporais diferentes e distintos. As primeiras ilhas a emergir, parecem ter sido as Selvagens, há cerca de 27 Ma, seguidas do Porto Santo, há 14 Ma, e a Madeira e Desertas, aproximadamente, há 5,2 Ma. Estas ilhas atravessam um período de inatividade vulcânica ao contrário do arquipélago dos Açores, pois até ao momento não há notícias históricas de manifestações vulcânicas.

Madeira - Cordilheira central - José L. Silva
Madeira - Cordilheira central - José L. Silva

Focando a ilha da Madeira, e mesma emergiu do mar na época do Pliocénico há 5,2Ma, cujos primeiros focos vulcânicos deram origem ao maciço montanhoso central da ilha com vários Picos, sendo os mais altos o Pico Ruivo com 1862 m e o Pico Torres com 1851 m. Após esta formação eruptiva mais antiga da ilha, formou-se uma pequena ilha com recifes coralígenos, dando origem a uma camada sedimentar de calcário fossilífero e que está bem expresso em São Vicente no Sitio dos Lameiros onde antigamente se explorava este calcário para a produção de cal. Nas fases seguintes do vulcanismo com erupções mais tranquilas, as chaminés vulcânicas cobriram-se de diverso material piroclástico.

Pináculo - Paul da Serra - Madeira - José L. Silva
Pináculo - Paul da Serra - Madeira - José L. Silva

Entretanto novos focos efusivos surgiram a oeste e a leste da ilha primitiva, tendo-se formado a oeste o planalto do Paul da Serra e a leste os pequenos planaltos do Poiso e Santo da Serra, a península de São Lourenço e as Ilhas Desertas como fazendo parte do mesmo edifício vulcânico que deu origem à ilha da Madeira. O vulcanismo efusivo normalmente gera tensões nas rochas pré existentes, provocando fraturas que posteriormente muitas delas foram preenchidas por injeções de magma, formando-se, assim redes de filões e diques que podem ser observados na parte central da ilha e em alguns locais da costa. 

Curral das Freiras - Madeira
Curral das Freiras - Madeira

Com o vulcanismo entretanto adormecido a erosão ao longo de milhares de anos, moldou vales profundos como é o exemplo do Curral das Freiras. A erosão marítima nas costas escarpadas teve por consequência a formação de derrocadas (quebradas), dando origem às fajãs que são pequenas planícies localizadas na base das falésias.

As rochas da ilha da Madeira na sua maioria resultaram do arrefecimento de magmas que deram origem a derrames de lavas ou escoadas e acumulação de materiais piroclásticos. As poucas rochas sedimentares existentes correspondem a períodos de acalmia da atividade vulcânica, criando as condições para a formação de recifes e a posterior sedimentação de depósitos calcários marinhos fossilíferos. As rochas vulcânicas extrusivas ou vulcanitos apresentam-se densas ou porosas de acordo com as condições de formação e são mariotariamente de quimismo básico: Basaltos, basanitos, hawaiitos, mugearitos, gabros ou em menor escala de composição mais ácida designadas por traquitos. 

Mineralogia

Xenólito de Olivina - 10x7x5cm - Porto Moniz
Xenólito de Olivina - 10x7x5cm - Porto Moniz

As formações basálticas da Madeira normalmente apresentam textura afanítica e microcristalina e após exame macroscópico às mesmas, encontra-se minerais de formação básica como a augite, olivina e plagióclase, os quais desenvolvem-se por vezes em fendas, fraturas ou em bolçadas formadas por gases no interior dos basaltos ou durante a sua formação agregam xenólitos entre os quais o de olivina.

Aragonite - Cristal de 6cm - Madalena do Mar
Aragonite - Cristal de 6cm - Madalena do Mar
Aragonite sob Calcite - cristais até 4cm - Madalena do Mar
Aragonite sob Calcite - cristais até 4cm - Madalena do Mar

Algumas bolçadas basálticas apresentam cristalizações de aragonite ou calcite que no elucidário madeirense se conhecem por "madre de pedra" por se encontrar no interior da pedra. 

Calcite - 15x5mm - Madalena do Mar
Calcite - 15x5mm - Madalena do Mar
Calcite - 2x1,5cm - Madalena do Mar
Calcite - 2x1,5cm - Madalena do Mar
Calcite - 4x2cm - Madalena do Mar
Calcite - 4x2cm - Madalena do Mar
Calcite - 10x5mm - Madalena do Mar
Calcite - 10x5mm - Madalena do Mar

Para além destas bolsadas de carbonato, aparecem também formações de zeólitos cujo mecanismo mineralógico de formação está ligado entre a reação de formação dos vulcanitos e o carbonato de cálcio com proveniência provável do calcário fossilífero da ilha primitiva de recifes.  

Zeólitos  

As rochas com zeolitização na ilha da Madeira têm a sua maior representação na parte central da ilha no vale da Serra de Água na Ribeira Brava e mais para nordeste na Fajã Grande em São Roque do Faial. Todos os zeólitos aqui representados neste artigo foram recolhidos e analisados pelo Dr. Pedro Alves. 

Chabazite-Ca

Chabazite-Ca - 6x4x3cm - Serra de Água
Chabazite-Ca - 6x4x3cm - Serra de Água
Chabazite-Ca - 5x4x4cm - Fajã Grande
Chabazite-Ca - 5x4x4cm - Fajã Grande

A Chabazite-Ca - (Ca,K2,Na2)2[Al2Si4O12]2 · 12H2O - Não tem representação conhecida no Continente, contudo está muito bem representada na Serra de Água com cristalizações bem definidas em cavidades por vezes grandes. Os cristais pertencem ao sistema triclínico e apresentam-se bem desenvolvidos até aos 5mm e de brilho vítreo.  Apresentam-se normalmente maclados em conjuntos circulares com a designação de Phacolite. 

Chabazite-Ca - (Phacolite) - 30x26x23cm - Serra de Água
Chabazite-Ca - (Phacolite) - 30x26x23cm - Serra de Água
Chabazite-Ca - (Phacolite) - 9x7x7cm - Serra de Água
Chabazite-Ca - (Phacolite) - 9x7x7cm - Serra de Água

Mesolite

Mesolite - 5x4x4cm - Serra de Água
Mesolite - 5x4x4cm - Serra de Água
Mesolite - 14x10x6cm - Serra de Água
Mesolite - 14x10x6cm - Serra de Água
Mesolite, Chabazite - 6x5x2cm - Fajã Grande
Mesolite, Chabazite - 6x5x2cm - Fajã Grande

A Mesolite - Na2Ca2Si9Al6O30 · 8H2O - é um zeólito que também não tem representação conhecida no Continente. Na Serra de Água tem a melhor representação nacional com cristalizações em grupos aciculares de cristais milimétricos e desenvoltura até 1cm. Os cristais pertencem ao sistema ortorrômbico com brilho vítreo a sedoso e desenvolvem-se em cavidades por vezes grandes formando amostras muito belas. Na Fajã Grande tem formação botrioidal e acompanha por vezes com Chabazite.

Thomsonite-Ca

Thomsonite-Ca, Calcite - 10x8x5cm - Fajã Grande
Thomsonite-Ca, Calcite - 10x8x5cm - Fajã Grande
Thomsonite-Ca - 10x8x5cm - Serra de Água
Thomsonite-Ca - 10x8x5cm - Serra de Água
Thomsonite-Ca, Chabazite - 7x5x3cm - Serra de Água
Thomsonite-Ca, Chabazite - 7x5x3cm - Serra de Água

A Thomsonite-Ca - NaCa2[Al5Si5O20] · 6H2O - é um zeólito comum em fenómenos de zeolitização e na Madeira não é exceção. Está bem representada em boas cavidades na Fajã Grande com formações botrioidais levemente tingidas e acompanha por vezes com pequenos cristais (escalenoedros) de Calcite. A representação na Serra de Água é em tufos de aspeto sedoso numa cor mais pura podendo acompanhar com a Chabazite. 

Lévyne-Ca

Lévyne-Ca - 4x4x3cm - Fajã Grande
Lévyne-Ca - 4x4x3cm - Fajã Grande
Lévyne-Ca - 3,5x3x2cm - Serra de Água
Lévyne-Ca - 3,5x3x2cm - Serra de Água

A Lévyne-Ca - (Ca,Na2,K2)[Al2Si4O12] · 6H2O - é um zeólito menos comum sem representação conhecida no Continente e quimicamente pertence ao subgrupo dos zeólitos (Chabazite-Lévyne) - M[Al2Si4O12] · 6H2O.

M =  Ca, Na2,K2,Mg,Sr. 

A sua representação está normalmente associada a pequenas amígdalas com cristalizações milimétricas que se identificam facilmente pelos seus cristais clássicos  em pequenas palhetas de contorno hexagonal. Pertence ao sistema trigonal. Está representada em ambas as localidades, sendo a da Fajã Grande com maior projeção química.

Gismondine-Ca

Gismondine-Ca - 4x3x2,5cm - Fajã Escura
Gismondine-Ca - 4x3x2,5cm - Fajã Escura
Gismondine-Ca - 4x3x2cm - Fajã Escura
Gismondine-Ca - 4x3x2cm - Fajã Escura

A Gismondine-Ca - CaAl2Si2O8 · 4H2O - é outro zeólito menos comum sem representação conhecida no Continente e, na Madeira está representada na Fajã Escura em Curral das Feiras. Aparece em pequenas cavidades com cristais até 3mm num branco translúcido e brilho vítreo. Pertence ao sistema monoclínico e acompanha por vezes a Chabazite-Ca.   

Natrolite

Natrolite, Phillipsite-Ca - 5x3x2cm - Fajã Grande
Natrolite, Phillipsite-Ca - 5x3x2cm - Fajã Grande

A Natrolite - Na2Al2Si3O10 · 2H2O - é um zeólito comum com boa representação no Continente. Na Madeira está fracamente representada  e aparece em pequenas cavidades em pequenos tufos brancos de cristais milimétricos de brilho vítreo a sedoso. Pertence ao sistema ortorrômbico e acompanha por vezes na mesma génese com outras cavidades preenchidas com Phillipsite-Ca. 

Garronite-Ca

Garronite-Ca - 8x6x3cm - Fajã Escura
Garronite-Ca - 8x6x3cm - Fajã Escura

A Garronite-Ca - Na2Ca5Al12Si20O64 · 27H2O - é um zeólito raro e não tem representação conhecida no Continente. Na Madeira tem representação nas Fajãs Grande e Escura e a formação cristalográfica é milimétrica em cavidades pequenas. Pertence ao sistema tetragonal e acompanha por vezes com Natrolite ou Phillipsite-Ca na Fajã Grande. 

Martins da Pedra 

Referências:

Lomba dos Pianos quarry, Magoito, São João das Lampas e Terrugem, Sintra, Lisbon, Portugal (mindat.org)

Valejas, Carnaxide e Queijas, Oeiras, Lisbon, Portugal (mindat.org) 

Lugar da Nave quarry, Nave, Monchique, Monchique, Faro, Portugal (mindat.org) 

Madeira Gentes e Lugares: Rochas e Sedimentos do Arquipélago da Madeira e Enquadramento Histórico e Geológico - José L. Silva 

Formação e evolução geológica do arquipélago da Madeira - RTP Ensina