Mina Miguel Vacas
Vila Viçosa
Mina do amanhecer com pedras verdes.
Mina na quietude do mármore branco.
Mina de brilhos e ecos sobre a água.
Mina de silêncios de cobre e de vinho Borba.
Introdução
A primeira visita que fiz à Mina de Miguel Vacas, foi em Agosto de 1998 depois de receber uma amostra de libethenite do meu amigo Eng.º Carlos Marques, grande conhecedor e colecionador desta mina dos anos 80 do século passado, a qual ainda laborava. Desde então perdi as vezes que visitei esta mina para recolher amostras, seja sozinho ou acompanhado, a visita é sempre diferente porque descobre-se algo novo ou diferente. A mina está em propriedade privada e a permissão deve ser solicitada. Atualmente a coleta de amostras é complicada, pois o acesso de carro é restrito à mina e hoje as escombreiras ricas em amostras estão a servir como depósito de resíduos de mármore. O melhor local de coleta é principalmente no veio de quartzo quando o nível do lençol freático permite.
Localização
A mina de Miguel Vacas está situada perto da povoação de Pardais junto à pedreira de mármore Cochicho. Esta povoação do distrito de Évora situa-se a sudeste de Vila Viçosa e a cerca de 200 km de Lisboa. Toda esta região pertence ao anticlinal Sousel-Estremoz-Alandroal, e atualmente é economicamente famosa pelas numerosas pedreiras de mármore em exploração na região. No passado nesta região, a economia industrial baseava-se na exploração mineira do cobre, como comprovam as várias minas e pequenas concessões que se estendem nesta região até à vila de Barrancos.
Geologia
A jazida de cobre da Mina Miguel Vacas está localizada na Faixa Sousel–Barrancos da Zona Ossa-Morena em Xistos e Filitos Silúricos próximo ao contato com um afloramento lenticular do grupo de Vila Viçosa, pertencente principalmente ao Câmbrico. Estas rochas são compostas por Xistos, Quartzitos e Calcários. O metamorfismo em rochas calcárias levou à formação de um imponente depósito de Mármore amplamente explorado. A jazida da mina corresponde a um sistema de estrutura em filões preenchido com quartzo e carbonatos, sub-vertical com a direção NNW-SSE e sub-concordante com a estrutura regional. A jazida está inserida em formações metassedimentares (Xistos pretos e cinzentos, com Liditos intercalados). Estende-se por mais de 2 km de comprimento com espessura variável (10 a 20 m). Em Miguel Vacas é possível observar duas tipologias de minério completamente diferentes, minério primário e minério supergênico. O minério primário é composto por calcopirite, pirite, arsenopirite e gersdorfite. Em todas as secções expostas, todos os vestígios dos Sulfuretos foram obliterados em Óxidos e Hidróxidos de ferro e manganês. Esta zona oxidada bem desenvolvida é derivada de grandes veios de sulfuretos contidos na falha principal. O minério supergênico consiste em malaquite, azurite, pseudomalaquite, libethenite, Brochantite, cuprite, calcocite, digenite, anilite, djurleite, covelite, bornite, cobre nativo, wittichenite, cuprobismutite, emplectite, bismutinite, bismuto nativo e mais raramente rútilo.
História
Provavelmente os romanos trabalharam o cobre neste distrito, mas atualmente não há evidências arqueológicas aqui que comprovem algum trabalho romano. De facto, a exploração do cobre pode ter sido feita antes da ocupação romana, estudo reportado por (Cerveira. 1972). No que diz respeito à atividade mais recente, a única informação que se descobriu consta de relatórios internos da empresa mineira, agora nos arquivos da Direção Geral de Geologia e Minas em Lisboa (Metello, 1925; Cerveira, 1972; Silveira, 1986). Um contrato de exploração para o depósito foi concedido a J. Norton Nogueira em 1922 e transferido para G.F.Norton & Co., em 1923.
Foi então iniciado um programa de desenvolvimento para exploração da jazida por esta última empresa, que implicou a abertura de galerias numa extensão de aproximadamente 1000m distribuídas em dois níveis. Três poços para ventilação e extração também foram desenvolvidos para acessar o veio abaixo dos 30 m e 42 m (Fig. 1 - Galerias). Registou-se fraca e irregular produção até que o empreendimento encerrou as suas operações em 1940 e a mina foi declarada abandonada em 1943. Adriano Domingos Galo assumiu a concessão em 1948 e a American Smelting and Refining Co. realizou trabalhos exploratórios limitados. Entre 1950 e 1953 foram produzidas pequenas quantidades de concentrados e a concessão foi transferida em 1956 para a Empresa de Mineração, SARL. A exploração prosseguiu irregular com várias avaliações da jazida, algumas das quais foram realizadas pela empresa canadiana Mining Exploration International.
Em 1979 a concessão foi adquirida pela empresa MINARGOL (Complexo Mineiro de Arcozelo) que procedeu à prospecção da jazida e à volta desta. Como resultado, as operações foram iniciadas com desmonte a céu aberto na zona oxidada da jazida com o objectivo de lixiviar o minério. Esta empresa no desenvolvimento deste trabalho de extracção, contribuiu extraordinariamente para o desenvolvimento do concelho. Assim adquiriu vários imóveis adjacentes para facilitar não só a exploração mineira, mas também a instalação de anexos administrativos como: laboratório, armazém, oficinas, serviços médicos e sociais gerais, balneários e instalações sanitárias. Em 1985 a exploração teve a seguinte distribuição de pessoal:
Serviços Gerais -145; Exploração – 143; Triturador – 30; Laboratório – 40; Lixiviação – 365; Serviços Electromecânicos -125.
Em Setembro de 1986, a exploração foi totalmente
abandonada devido aos altos custos operacionais em relação ao preço do cobre no
mercado internacional. A partir deste ponto toda a zona de oxidação desmontada foi
completamente inundada por falta de manutenção adequada, e a mina fechou
definitivamente em Março de 1990.
Mineralogia
Minerais secundários de cobre encontram-se no
veio de quartzo e brechas de quartzo e xisto adjacentes a este. Em profundidades
até 30m, pouca mineralização de cobre está presente. A riqueza mineralógica da
zona de cementação está confinada a profundidades superiores a 35 m nos níveis
mais profundos e que foi explorada a céu aberto. Em Julho de 1985, a bancada
363 mais profunda da mina com desmonte a céu aberto, cruzou o nível dos 42 m
dos antigos trabalhos subterrâneos, expondo a riqueza mineralógica dos minerais
secundários de cobre da mina Miguel Vacas. A Fig - 1 mostra a geologia da
bancada juntamente com a projeção da obra no nível dos 42 m.
Os minerais secundários de cobre com maior representatividade são a Libethenite, Pseudomalaquite, Malaquite, Azurite, etc, seguidos de outros fosfatos de Cu, Fe e Al conforme se segue:
A Libethenite - Cu2(PO4)(OH) é o primeiro mineral secundário de cobre a formar-se. Os maiores cristais foram encontrados na extremidade sul da bancada 363. Aqui a Libethenite cristalizou na zona de cisalhamento do xisto e quartzo entre falhas até 3cm sob capas de óxidos e hidróxidos de Fe e Mn. Cristais grandes sem brilho até 1 cm na forma bipiramidal, podem ocorrer sozinhos e às vezes acompanhados por revestimentos de Pseudomalaquite. A melhor representação é caracterizada por cristais brilhantes em drusas de cristais até 3mm que cobrem planos de clivagem em xisto. Estes planos de clivagem são invariavelmente preenchidos com drusas sacaroides de cristais de quartzo, sob as quais cristaliza a Libethenite fazendo um belo efeito estético, tornando estas amostras dignas de qualquer coleção de minerais. A Libethenite de Miguel Vacas para todos os efeitos rivaliza com as congéneres da localidade tipo da mina Rokana na Zâmbia e da mina Burra Burra na Austrália.
A Pseudomalaquite - Cu5(PO4)2(OH)4 está bem representada na bancada 363 com pelo menos duas gerações de crescimento. Cristais únicos não foram observados, mas o mineral é certamente cristalino. O modo de ocorrência é o mesmo da Libethenite, a qual aparece em pequenas esférulas que se fundem para formar massas botrioidais que acompanham por vezes formações de Malaquite. A maior parte da Pseudomalaquite está representada na extremidade N da bancada 363. Ocasionalmente uma segunda geração de pequenas esférulas de cor verde-esmeralda sobrepõe-se à primeira. As amostras mais bonitas, de tamanho micro encontram-se no extremo sul da bancada associada à Libethenite.
A Malaquite - Cu2(CO3)(OH)2 tem a melhor representação acima dos níveis da bancada 363. Nestes níveis, vê-se frequentemente substituições de Pseudomalaquite em Malaquite, mas nunca de Libethenite. Bandas radiadas de Malaquite após Pseudomalaquite são comuns e substituições completas têm sido observadas.
A Azurite - Cu3(CO3)2(OH)2 está confinada ao extremo norte do nível da bancada 363 na brecha xistosa adjacente ao xisto de grafite. Os cristais são pequenos, raramente ultrapassam os 3 mm, e estão implantados sob capas de óxidos e hidróxidos de Fe e Mn. Acompanha normalmente com Libethenite e Malaquite. As amostras têm brilho marcante, mas a Azurite é claramente de fase mais jovem. Foi observado pseudomorfoses de Azurite em Malaquite em várias amostras.
A Reichenbachite - Cu5(PO4)2(OH)4 está representada na bancada 363 e aparece em pequenos cristais bipiramidais até 2mm de cor verde escuro. À primeira vista confunde-se com Libethenite. É de fase mais jovem e geralmente cristaliza em pequenas cavidades de Quartzo ou sob Pseudomalaquite ou Malaquite.
A Zapatalite - Cu3Al4(PO4)3(OH)9 · 4H2O está representada na bancada 363 e aparece em cavidades de Quartzo em crostas, pequenas esferas ou cristais até 2mm de cor azul claro. À primeira vista confunde-se com Planerite e Turquesa. Normalmente está associada à Pseudomalaquite.
A Chalcosiderite - CuFe6(PO4)4(OH)8 · 4H2O está confinada ao extremo norte da bancada 363 em xistos grafíticos e aparece em crostas com cristais milimétricos de cor verde clara. Normalmente está associada a Cacoxenite e Strengite e cristaliza em pequenas cavidades no xisto grafítico.
A Wavellite - Al3(PO4)2(OH,F)3 · 5H2O está confinada nos níveis superiores de oxidação acima dos 30m. Aparece em micro cristais piramidais até 2mm de cor branca ou incolor e em crostas verde claras. Está associada a Libethenite e Pseudomalaquite e aparece em pequenos cavidades no xisto.
A Cacoxenite - Fe24AlO6(PO4)17(OH)12 · 75H2O e a Strengite - FePO4 · 2H2O estão confinadas ao extremo norte da bancada 363 em xistos de grafite. Aparecem em esferas até 3mm. Normalmente estão associadas à Chalcosiderite e cristalizam em pequenas cavidades de Quartzo no Xisto.
A mina tem representações de outros minerais secundários de cobre como a Turquesa e a sua variedade Rashleighite, Planerite, Brochantite, Cuprite, Cobre nativo, etc. Minerais de alteração recente devido à presença de água na mina é relatado a Calcantite e a Copiapite.
A Calcite - CaCO3 está representada na bancada 363 e aparece no encosto do mármore em placas de cristais lenticulares até 3cm de cor branco sujo. Forma séries com a Ankerite e cristaliza em cavidades de Quartzo.
O Quartzo – SiO2 - é o principal catalisador da mineralização e acompanha as falhas no xisto até aos níveis superiores da mina. Nas áreas adjacentes aos 42m de profundidade, o Quartzo preenche as falhas e cavidades em drusas de pontas de cristal até 20cm. Acompanha o filão do cobre caracterizado pela oxidação do minério primário onde verifica-se Goethite, Cuprite, Cobre Nativo e minerais secundários de cobre. Verifica-se também vestígios de Calcopirite e pseudomorfoses de cristais de Pirite em Goethite. A Cuprite, o Cobre Nativo e os minerais secundários de cobre, acompanham o veio de Quartzo até ao nível superior da bancada 380, localizado no lado sul da mina. Aqui o Cobre Nativo aparece terroso com nódulos de Malaquite no encosto entre o xisto e o veio de Quartzo.
Martins da Pedra
Referências:
Miguel Vacas Mine, Nossa Senhora da Conceição e São Bartolomeu, Vila Viçosa, Évora, Portugal (mindat.org)