Mina de Aljustrel

Aljustrel

Malacate do Poço de Viana – (mapio.net)
Malacate do Poço de Viana – (mapio.net)

Introdução 

A mina de Aljustrel é um magnífico laboratório para promover a investigação mineira e metalúrgica, uma vez que existe uma ocupação contínua desta área mineira desde o III milénio AC até aos dias de hoje. Nesta perspetiva o Município de Aljustrel reabilitou varias infraestruturas de ruinas mineiras e criou um Parque Mineiro turístico que visa valorizar e divulgar a história mineira  desta região. Este Parque Mineiro inclui percursos pedestres entre escombreiras, locais de cementação, chapéus de ferro, chaminés, locomotivas e malacates, e ainda descidas a uma galeria subterrânea.

Localização

Localização por satélite
Localização por satélite

Aljustrel é bastante conhecida nacional e internacionalmente pelas suas minas, as quais confinam com a vila que tem o critério de Património Industrial Mineiro e Geológico. Situa-se no distrito de Beja, no Baixo Alentejo cujo município tem 458,47 km² de área. O acesso faz-se pela N261.

Localização da Mina de Aljustrel
Localização da Mina de Aljustrel

Alguns aspetos

Depósito de Algares – Julho de 2003
Depósito de Algares – Julho de 2003
Malacate de Viana (Algares) – Julho de 2003
Malacate de Viana (Algares) – Julho de 2003
Galeria, Algares – (Lusa)
Galeria, Algares – (Lusa)
Escombreiras de Algares – Julho de 2003
Escombreiras de Algares – Julho de 2003
Britadeira do minério – (The South Express)
Britadeira do minério – (The South Express)
Cementação de Algares – (Edm, S.A.)
Cementação de Algares – (Edm, S.A.)
Malacate de S. João do Deserto - M. de Aljustrel
Malacate de S. João do Deserto - M. de Aljustrel
Malacate Vipasca - lifecooler.com
Malacate Vipasca - lifecooler.com
Toldas das minas - M. de Aljustrel
Toldas das minas - M. de Aljustrel
Tanques de cementação (Algares) - Julho de 2003
Tanques de cementação (Algares) - Julho de 2003

Geologia

Mapa geológico simplificado da Faixa Piritosa Ibérica - (FPI)
Mapa geológico simplificado da Faixa Piritosa Ibérica - (FPI)

A mina de Aljustrel está enquadrada geologicamente na Faixa Piritosa Ibérica (FPI) que constitui a principal fração da zona Sul Portuguesa, do segmento ibérico da cintura Varisca. Localiza-se perto do contacto entre a zona de Ossa-Morena e a zona Sul-Portuguesa, numa área geográfica com cerca de 300x60 Km. Estende-se desde o jazigo de sulfuretos polimetálicos de Lagoa Salgada perto de Alcácer do Sal em Portugal até à mina desativada de Aznalcóllar próximo de Sevilha em Espanha. Como se pode observar no mapa geológico simplificado, existem nesta faixa, várias minas onde têm vindo a ser explorados, intensamente, os depósitos metalogénicos maciços de sulfuretos, destacando-se pirites maciças associadas, em maior ou menor grau, a sulfuretos de metais básicos. Algumas minas portuguesas estão ativas como a mina de Aljustrel e Neves Corvo, outras como as minas da Caveira, Lousal, Juliana, Ferragudo, S. Domingos, Chança, Porteirinhos, Barrigão, etc, estão presentemente encerradas ou abandonadas. A FPI geologicamente é constituída mariotariamente por rochas de origem vulcânica e vulcano-sedimentares, de idades compreendidas entre o Devónico superior e o Carbónico (380-290 Ma), as quais acolhem um dos maiores depósitos maciços de sulfuretos de origem vulcânica do mundo, associados ao Complexo Vulcano-Silicioso. As estruturas geológicas com os sulfuretos maciços na área da mina de Aljustrel encontram-se em rochas de natureza vulcânica: Tufos, Riólitos, etc, que foram sofrendo alterações devido à passagem dos fluidos quentes e de água do mar, estando tanto mais alteradas quanto mais próximas das zonas mineralizadas (alteração hidrotermal: clorítica, sericítica, siliciosa). O jazigo de Aljustrel é constituído por seis corpos minerais separados (Estação, Feitais, Algares, Moinho, São João e Gavião).

História

Vicus Metallum Vipascence
Vicus Metallum Vipascence

A exploração das minas de Aljustrel iniciou-se no final do 3º milénio AC, pelos Fenícios e Cartagineses perto das jazidas de Algares e São João do Deserto como o provam as escavações da Idade do Bronze na Mangancha, perto de São João. No final do século I, a Mangancha começou a ser ocupada por um aldeamento romano, com guarnição militar, o que levou ao estabelecimento de uma colónia em Vipasca (atual Aljustrel) perto de Algares. A Lusitânia romana possuía varias minas e a mina de cobre mais importante da Europa Ocidental situava-se na vila de Vipascum ou Vipasca que era administrada por um promotor "et rationalium uicarius". Entre 1876 e 1906 foram encontradas duas placas de bronze (Vipasca I e Vipasca II) contendo legislação que existia na época da mineração de Adriano Augusto (117-138 DC.).

Placa de Bronze – Vipasca I
Placa de Bronze – Vipasca I
Texto em Latim - Vipasca I
Texto em Latim - Vipasca I

Vipasca I - foi encontrada em Maio de 1876 num depósito de escórias romanas perto de Algares. É uma placa de bronze com inscrições latinas em ambos os lados a indicar regras de utilização de serviços públicos de um balneário. Esta placa encontra-se agora exposta no Museu Geológico, na Rua Academia das Ciências em Lisboa.

Placa de Bronze – Vipasca II
Placa de Bronze – Vipasca II
Texto em Latim - Vipasca I I
Texto em Latim - Vipasca I I

Vipasca II - Foi encontrada a 7 de Maio de 1906, em escórias romanas, junto à jazida de Algares. È uma placa de bronze com inscrição latina composta por um texto de 46 linhas sobre código de utilização de minas do qual constava pelo menos três placas. O texto está escrito formalmente em forma de carta a Úpio Aelian, procurador do distrito mineiro de Vipasca. Esta placa encontra-se atualmente exposta no Museu Arqueológico Nacional, situado no edifício do Mosteiro dos Jerónimos, na Praça do Império, em Lisboa.

Ruínas da vila romana de Vipasca - J. Fernandes
Ruínas da vila romana de Vipasca - J. Fernandes
Ruína de Chaminé da Transtagana - (Edm, S.A.)
Ruína de Chaminé da Transtagana - (Edm, S.A.)

A mineração estendeu-se até ao século IV até ser abandonada devido às crises do Império romano. A mina de Aljustrel só voltou a aparecer no foral de 1252, onde a Ordem de Santiago da Espada reservava o direito aos lucros da mina. Um regulamento mineiro do século XVI atribuído a Ayres do Quintal, mencionava a mina de Aljustrel. Em meados do mesmo século, um documento do rei D. João III, referia a existência de um pigmento produzido no território, conhecido por Azul de Aljustrel, que era refinado e vendido a pintores por um funcionário régio. Um documento de 1848 atribuiu a primeira concessão mineira de Aljustrel ao espanhol Sebastião Gargamala, que perdeu a concessão por falta de exploração. Mais tarde a concessão foi atribuída à Lusitanian Mining Company que funcionou apenas durante dois anos, findos os quais, o título foi transferido para a Companhia Portuguesa de Mineração Transtagana.

Zona mineira – princípio do séc. XX - A. Pacheco
Zona mineira – princípio do séc. XX - A. Pacheco
S. João do Deserto - princípio do séc XX - A. Pacheco
S. João do Deserto - princípio do séc XX - A. Pacheco

A Transtagana iniciou uma exploração em grande escala durante 15 anos, introduzindo o transporte ferroviário e o processamento do minério. Devido a uma série de condições desfavoráveis ​​no mercado internacional, a empresa faliu e a concessão foi repassada ao banco Fonseca, Santos & Vianna. O banco tornou-se acionista de uma empresa belga que estabeleceu a Société Anonyme Belge des Mines d'Aljustrel que explorou a mina até 1973. Em Junho de 1973, foi adquirida pela empresa Pirites Alentejanas, SARL, com uma participação maioritária de 50% do Estado, 40% da CUF e os restantes 10% fixos nesta empresa.

Zona mineira – princípio do séc. XX - Radio Pax
Zona mineira – princípio do séc. XX - Radio Pax
Locomotiva da sociedade belga – Algares – (Open Edition)
Locomotiva da sociedade belga – Algares – (Open Edition)

Com o programa de nacionalização implementado pelo governo democrático em 1975, o Estado assumiu 90% do capital da empresa, sendo os restantes 10% detidos por interesses belgas. Em 1977 com a descoberta do jazigo de Neves Corvo, o investimento tecnológico apropriado, assim como a recessão da cotação dos metais na altura, levou que a mina de Aljustrel suspendesse os trabalhos em Março de 1993 por motivos económicos. Em 2001 o complexo mineiro de Aljustrel foi adquirido pela empresa canadiana Eurozinc Mining Corporation que depois de um investimento rigoroso, abriu a mina em Maio de 2006. Em 2009 esta empresa vendeu a mina a um grupo português que alterou a designação do nome para Almina – Minas do Alentejo, S.A.

Mineralogia

Recolha de Vitríolos - Julho de 2003
Recolha de Vitríolos - Julho de 2003
Hermínia - (Mina) - a esposa - Julho de 2003
Hermínia - (Mina) - a esposa - Julho de 2003

A primeira vez que visitei a Mina de Aljustrel foi em Julho de 2003, onde recolhi algumas escorrências e precipitações de Sulfatos de Cu, Fe e Al na galeria de saída do minério em Algares. Os restantes minerais foram adquiridos ao longo dos anos através de feiras e de alguns conhecimentos.

Alunogénio – 19cm
Alunogénio – 19cm
Alunogénio – 10x8x6cm
Alunogénio – 10x8x6cm
Alunogénio – 27x5x3cm
Alunogénio – 27x5x3cm
Halotrichite – 15x7x3cm
Halotrichite – 15x7x3cm
Halotrichite – 20x8x5cm
Halotrichite – 20x8x5cm
Pickeringite, Pisanite – 4x2x2cm
Pickeringite, Pisanite – 4x2x2cm
Melanterite – 6x5x5cm
Melanterite – 6x5x5cm
Pisanite – 12x8x6cm
Pisanite – 12x8x6cm
Pisanite – 16x9x9cm
Pisanite – 16x9x9cm
Calcopirite – 4x2,5x2cm
Calcopirite – 4x2,5x2cm
Pirite – (Espelho de falha) – 13x10x8cm
Pirite – (Espelho de falha) – 13x10x8cm
Galena – 7x5x2cm
Galena – 7x5x2cm
Galena – 5x3x2cm
Galena – 5x3x2cm
Calcite - 10x10x5cm
Calcite - 10x10x5cm
Calcite - 6x4x4cm
Calcite - 6x4x4cm
Dolomite, Pirite (espelho de falha) - 19x13x3cm
Dolomite, Pirite (espelho de falha) - 19x13x3cm
Barite – 9x6x2,5cm
Barite – 9x6x2,5cm
Barite – 6x4x2cm
Barite – 6x4x2cm

Martins da Pedra

Referencias:

Aljustrel Mine, Aljustrel e Rio de Moinhos, Aljustrel, Beja, Portugal (mindat.org)

António Manuel Ináçio Martins - The Bronze Boards of Vipasca (mindat.org)

Bússola do Tempo: Minas de Aljustrel (bussoladetempo.blogspot.com)