Mina de Aljustrel
Aljustrel
Introdução
A mina de Aljustrel é um magnífico laboratório para promover a investigação mineira e metalúrgica, uma vez que existe uma ocupação contínua desta área mineira desde o III milénio AC até aos dias de hoje. Nesta perspetiva o Município de Aljustrel reabilitou varias infraestruturas de ruinas mineiras e criou um Parque Mineiro turístico que visa valorizar e divulgar a história mineira desta região. Este Parque Mineiro inclui percursos pedestres entre escombreiras, locais de cementação, chapéus de ferro, chaminés, locomotivas e malacates, e ainda descidas a uma galeria subterrânea.
Localização
Aljustrel é bastante conhecida nacional e internacionalmente pelas suas minas, as quais confinam com a vila que tem o critério de Património Industrial Mineiro e Geológico. Situa-se no distrito de Beja, no Baixo Alentejo cujo município tem 458,47 km² de área. O acesso faz-se pela N261.
Alguns aspetos
Geologia
A mina de Aljustrel está enquadrada geologicamente na Faixa Piritosa Ibérica (FPI) que constitui a principal fração da zona Sul Portuguesa, do segmento ibérico da cintura Varisca. Localiza-se perto do contacto entre a zona de Ossa-Morena e a zona Sul-Portuguesa, numa área geográfica com cerca de 300x60 Km. Estende-se desde o jazigo de sulfuretos polimetálicos de Lagoa Salgada perto de Alcácer do Sal em Portugal até à mina desativada de Aznalcóllar próximo de Sevilha em Espanha. Como se pode observar no mapa geológico simplificado, existem nesta faixa, várias minas onde têm vindo a ser explorados, intensamente, os depósitos metalogénicos maciços de sulfuretos, destacando-se pirites maciças associadas, em maior ou menor grau, a sulfuretos de metais básicos. Algumas minas portuguesas estão ativas como a mina de Aljustrel e Neves Corvo, outras como as minas da Caveira, Lousal, Juliana, Ferragudo, S. Domingos, Chança, Porteirinhos, Barrigão, etc, estão presentemente encerradas ou abandonadas. A FPI geologicamente é constituída mariotariamente por rochas de origem vulcânica e vulcano-sedimentares, de idades compreendidas entre o Devónico superior e o Carbónico (380-290 Ma), as quais acolhem um dos maiores depósitos maciços de sulfuretos de origem vulcânica do mundo, associados ao Complexo Vulcano-Silicioso. As estruturas geológicas com os sulfuretos maciços na área da mina de Aljustrel encontram-se em rochas de natureza vulcânica: Tufos, Riólitos, etc, que foram sofrendo alterações devido à passagem dos fluidos quentes e de água do mar, estando tanto mais alteradas quanto mais próximas das zonas mineralizadas (alteração hidrotermal: clorítica, sericítica, siliciosa). O jazigo de Aljustrel é constituído por seis corpos minerais separados (Estação, Feitais, Algares, Moinho, São João e Gavião).
História
A exploração das minas de Aljustrel iniciou-se no final do 3º milénio AC, pelos Fenícios e Cartagineses perto das jazidas de Algares e São João do Deserto como o provam as escavações da Idade do Bronze na Mangancha, perto de São João. No final do século I, a Mangancha começou a ser ocupada por um aldeamento romano, com guarnição militar, o que levou ao estabelecimento de uma colónia em Vipasca (atual Aljustrel) perto de Algares. A Lusitânia romana possuía varias minas e a mina de cobre mais importante da Europa Ocidental situava-se na vila de Vipascum ou Vipasca que era administrada por um promotor "et rationalium uicarius". Entre 1876 e 1906 foram encontradas duas placas de bronze (Vipasca I e Vipasca II) contendo legislação que existia na época da mineração de Adriano Augusto (117-138 DC.).
Vipasca I - foi encontrada em Maio de 1876 num depósito de escórias romanas perto de Algares. É uma placa de bronze com inscrições latinas em ambos os lados a indicar regras de utilização de serviços públicos de um balneário. Esta placa encontra-se agora exposta no Museu Geológico, na Rua Academia das Ciências em Lisboa.
Vipasca II - Foi encontrada a 7 de Maio de 1906, em escórias romanas, junto à jazida de Algares. È uma placa de bronze com inscrição latina composta por um texto de 46 linhas sobre código de utilização de minas do qual constava pelo menos três placas. O texto está escrito formalmente em forma de carta a Úpio Aelian, procurador do distrito mineiro de Vipasca. Esta placa encontra-se atualmente exposta no Museu Arqueológico Nacional, situado no edifício do Mosteiro dos Jerónimos, na Praça do Império, em Lisboa.
A mineração estendeu-se até ao século IV até ser
abandonada devido às crises do Império romano. A mina de Aljustrel só voltou a
aparecer no foral de 1252, onde a Ordem de Santiago da Espada reservava o
direito aos lucros da mina. Um regulamento mineiro do século XVI atribuído a
Ayres do Quintal, mencionava a mina de Aljustrel. Em meados do mesmo século, um
documento do rei D. João III, referia a existência de um pigmento produzido no
território, conhecido por Azul de Aljustrel, que era refinado e vendido a
pintores por um funcionário régio. Um documento de 1848 atribuiu a primeira
concessão mineira de Aljustrel ao espanhol Sebastião Gargamala, que perdeu a
concessão por falta de exploração. Mais tarde a concessão foi atribuída à Lusitanian
Mining Company que funcionou apenas durante dois anos, findos os quais, o
título foi transferido para a Companhia Portuguesa de Mineração Transtagana.
A Transtagana iniciou uma exploração em grande escala durante 15 anos, introduzindo o transporte ferroviário e o processamento do minério. Devido a uma série de condições desfavoráveis no mercado internacional, a empresa faliu e a concessão foi repassada ao banco Fonseca, Santos & Vianna. O banco tornou-se acionista de uma empresa belga que estabeleceu a Société Anonyme Belge des Mines d'Aljustrel que explorou a mina até 1973. Em Junho de 1973, foi adquirida pela empresa Pirites Alentejanas, SARL, com uma participação maioritária de 50% do Estado, 40% da CUF e os restantes 10% fixos nesta empresa.
Com o programa de nacionalização implementado pelo governo democrático em 1975, o Estado assumiu 90% do capital da empresa, sendo os restantes 10% detidos por interesses belgas. Em 1977 com a descoberta do jazigo de Neves Corvo, o investimento tecnológico apropriado, assim como a recessão da cotação dos metais na altura, levou que a mina de Aljustrel suspendesse os trabalhos em Março de 1993 por motivos económicos. Em 2001 o complexo mineiro de Aljustrel foi adquirido pela empresa canadiana Eurozinc Mining Corporation que depois de um investimento rigoroso, abriu a mina em Maio de 2006. Em 2009 esta empresa vendeu a mina a um grupo português que alterou a designação do nome para Almina – Minas do Alentejo, S.A.
Mineralogia
A primeira vez que visitei a Mina de Aljustrel foi em Julho de 2003, onde recolhi algumas escorrências e precipitações de Sulfatos de Cu, Fe e Al na galeria de saída do minério em Algares. Os restantes minerais foram adquiridos ao longo dos anos através de feiras e de alguns conhecimentos.
Martins da Pedra
Referencias:
Aljustrel Mine, Aljustrel e Rio de Moinhos, Aljustrel, Beja, Portugal (mindat.org)
António Manuel Ináçio Martins - The Bronze Boards of Vipasca (mindat.org)
Bússola do Tempo: Minas de Aljustrel (bussoladetempo.blogspot.com)