Cadeia de Calcário da Arrábida
Sesimbra
Introdução
Paraíso à Beira Mar.
A origem do nome "Arrábida" é desconhecida, mas provavelmente vem do castelhano Rábida, através do árabe al-ribat, «arrábita» que significa «local de oração». É um lugar aprazível em que a descrição Paraíso à Beira Mar, é em todos os sentidos a melhor definição para este magnífico lugar sobranceiro sobre o Mar. As vistas panorâmicas envolventes pela geologia local, a flora, as praias e a gastronomia, fazem com que seja um local excelente de destino turístico.
Localização
A cadeia de calcário da Arrábida está representada quase totalmente pelo Parque Natural da Serra da Arrábida, situa-se a 35 km a sul de Lisboa entre os estuários do rio Tejo e do rio Sado na península de Setúbal. Está distribuído pelos concelhos de Setúbal, Palmela e Sesimbra, numa área aproximada de 10.800 hectares. Esta área natural é limitada a oeste e sudoeste pelo Oceano Atlântico e apresenta uma paisagem única com características particulares.
Geologia
As maiorias dos afloramentos calcários em Portugal distribuem-se nas bacias sedimentares interiores e são quase totalmente de idade mesozóica. Estes sedimentos de rochas carbonatadas e detríticas foram gerados com maior expressão e extensão na Bacia Lusitana. As formações calcárias da Arrábida incluem um conjunto de serras alinhadas, segundo uma direcção ENE-WSW com cerca de 35 km de comprimento por 6 km de largura média. Os relevos mais significativos constituem as serras de S. Luís, Louro, Risco e Arrábida (501 m). Estes relevos estendem-se para W até ao Oceano Atlântico através do Cabo Espichel. Esta região corresponde ao extremo sul da Bacia Lusitana e representa a mais interessante e importante inversão tectónica do Mioceno registada nesta estrutura de Bacia. Esta cadeia é constituída por sequências sedimentares carbonatadas e detríticas, do Mesozóico (Triássico - Cretáceo Inferior), associadas à evolução da Bacia Lusitana. Sobre estas sequências sobrepõem-se outras, predominantemente detríticas e por vezes carbonatadas restringidas por ambientes marinhos de idade Cenozóica (Quaternário), que estão intimamente ligados à evolução da bacia do Tejo.
Também aqui estas formações calcárias apresentam vários fenómenos cársticos e estão inventariadas algumas grutas como a gruta dos Morcegos, a gruta do Médico, a gruta do Frade, a gruta da Utopia, a gruta do Zambujal, etc.
Merecem destaque os testemunhos paleontológicos referentes a icnofósseis de dinossauros do período Jurássico com alguma representação na pedreira de Avelino localizada perto da vila do Zambujal e também no Cabo Espichel.
Algumas rochas de natureza evaporítica foram
exploradas no passado com destaque para a exploração de gesso na pedreira de
Santana junto à vila de Sesimbra. Estas rochas de precipitação com
aproximadamente 200 milhões de anos, tiveram início em lagoas do período
Jurássico onde os continentes norte-americano e euro-asiático não estavam
separados pelo Oceano Atlântico.
Esta exploração de gesso teve o seu apogeu na década de cinquenta do século passado, sendo o mesmo utilizado na indústria cimenteira do Outão em Setúbal.
Mineralogia
O gesso apresenta-se predominantemente fibroso,
espático ou granular com destaque para as formações espáticas incolores. Uma
particularidade única do gesso granular desta pedreira, é a ocorrência no seu
interior de cristais de quartzo bipiramidais de neoformação a baixa temperatura
associados à existência nas proximidades de um veio de rocha ígnea (Dolerito).
As formações de gesso apresentam-se no meio de margas argilosas que acompanham o calcário, onde localmente apresenta precipitações excêntricas interessantes de Calcite/Aragonite de cor branca.
Em tempos foi explorada como rocha ornamental a brecha da Arrábida na pedreira de Jaspe que se localiza junto à estrada que liga ao Portinho da Arrábida. Geologicamente está inserida nos conglomerados do Jurássico Superior e a sua exploração remonta à presença romana na região de Setúbal e estende-se de forma descontínua até 1973, ano em que encerrou com a criação do Parque Natural da Serra da Arrábida. Esta rocha com jaspe teve a sua maior expressão no reinado de D. Manuel I (1469-1521), a qual era utilizada na arquitetura manuelina.
Pedreiras Ativas
1 - Pedreira do Outão.
2 - Pedreiras de Mata Redonda e Pedreira.
3 - Pedreiras da Achada e Calhariz.
4 - Pedreiras do Zé Galo e Cabreira (desativada).
Devido à proximidade da cidade de Lisboa e na reconstrução desta após o terramoto de 1755, esta zona tem sido alvo de várias explorações, sobretudo com maior incidência em agregados para construção. Atualmente prevalecem os interesses económicos com as explorações de calcário e margas no perímetro do Parque Natural da Serra da Arrábida. Com exceção das pedreiras do Zambujal, todas as outras estão dentro do Parque Natural. As representações cristalográficas de Calcite são de fraca amplitude em comparação com a Serra dos Candeeiros no Maciço Calcário Estremenho. As poucas representações cristalográficas são das pedreiras da localidade de Pedreiras e do Zambujal.
1 - Pedreira do Outão
1 - A pedreira do Outão localiza-se perto da cidade de Setúbal com a exploração de margas pela empresa "SECIL" para o fabrico de cimento. Esta empresa é a única do parque que atualmente desenvolve um trabalho ambiental com o reflorestamento dos níveis mais antigos.
2 - Pedreiras de Mata Redonda e Pedreira
2 - O maior impacto ambiental no Parque Natural da Serra da Arrábida é representado pelas explorações de calcário junto à aldeia de Pedreiras, perto de Sesimbra. Atualmente as limitações de área para exploração são restritas e devido a essas limitações devidamente regulamentadas as entidades exploradoras desenvolveram trabalhos de desmantelamento em profundidade com um alcance impressionante. Aqui as pedreiras mais proeminentes são a Pedreira e a pedreira da Mata Redonda que exploram principalmente brita, sendo o acesso a ambas as pedreiras feito por um caminho privado após passar pela povoação de Pedreiras. Os calcários são pobres em cristalizações de Calcite, salvo uma pequena representação com cristais escalenoedros com bordas arredondadas coletados na pedreira Mata Redonda.
3 - Pedreiras da Achada e Calhariz
3 - Mais a poente localiza-se o núcleo das pedreiras da Achada e Calhariz cujo acesso faz-se antes de chegar à povoação de Pedreiras. Estas duas pedreiras possuem as mesmas características já especificadas anteriormente com a mesma impressionante amplitude em relação à profundidade e área desmontada. Os calcários da pedreira da Achada apresentam por vezes pequenas aberturas com algumas representações de cristais de calcite trigonal.
A melhor representação de Calcite da Arrábida é da pedreira do Calhariz. Esta calcite apresenta-se em cristais escalenoédricos dente de cão até 2 cm com vértices bem vincados. Por vezes verifica-se cristais biterminados e maclas. A cor é avermelhada por inclusões de hematite. Esta calcite é proveniente de calcários próximos da superfície que possuem aberturas preenchidas com argila vermelha cuja característica está associada à terra rossa dos ambientes cársticos.
4 - Pedreiras do Zé Galo e Cabreira
4- À saída da aldeia do Zambujal e em direção ao Cabo Espichel, localiza-se do lado esquerdo a pedreira do Zé Galo. Esta pedreira tem as mesmas características de exploração das pedreiras da povoação de Pedreiras. Tem uma área de exploração com 57 hectares e 5,8 km de perímetro. A calcite da pedreira do Zé Galo é interessante porque apresenta-se em grupos esguios de cristais escalenoédricos estreitos com as terminações arredondadas.
A pedreira da Cabreira está situada a cerca de 200 metros da pedreira do Zé Galo e encontra-se desativada. Foi explorada pela empresa "Tecnobritas". Em Junho de 1979 a exploração de calcário avançava no topo sul pondo a descoberto uma gruta que mais tarde veio a chamar-se gruta do Zambujal e do qual resultou a paragem dos trabalhos nesta frente. Entre Setembro e Novembro de 1994 a exploração de calcário progredia para sudeste da caverna e devido ao uso de cargas explosivas a caverna sofreu graves danos que fizeram desmoronar parte do teto da zona superior da câmara. A calcite desta pedreira provém do topo sul onde foi descoberta a gruta do Zambujal. Os trabalhos de desmantelamento neste local puseram a descoberto algumas formações excêntricas interessantes relacionadas com os ambientes cársticos.
Nos terrenos junto à pedreira da Cabreira, surgem por vezes espalhadas pelo solo pseudomorfoses de cristais de pirite em goethite.
Martins da Pedra
Referencias:
António Manuel Inácio Martins - Limestone Chain of Arrábida (mindat.org)