Maciço Calcário da Estremadura
Rio Maior
Introdução
O Maciço Calcário da Estremadura enquadra-se no Parque Natural da Serra de
Aire e Candeeiros. As múltiplas concessões para a exploração de calcário na área do Maciço vão fornecendo ao longo do tempo uma das melhores representações de cristais de Calcite em Portugal. Como entusiasta colecionador de cristais de calcite, vou visitando ao longo dos anos as pedreiras para recolher as diversas geometrias cristalográficas deste mineral frágil e lindíssimo, principalmente nas tonalidades meladas.
Geologia
Geologicamente, a maioria dos afloramentos calcários em Portugal distribuem-se nas bacias de interior e são quase totalmente de idade mesozoica. Estes sedimentos de rochas carbonatadas e detríticas foram gerados com maior expressão e extensão na Bacia Lusitana (Fig. 1), que é representada cartograficamente por uma extensa área do Meso Cenozoico, que se estende por mais de 250 km de Aveiro a Setúbal, não ultrapassando 60 km de largura. O seu eixo de espessura máxima segue uma estrutura
geral NNE-SSW. Constitui uma área emersa (onshore) com cerca de 20.000 km2 e
estende-se com algum destaque até à plataforma continental, onde o Maciço
Calcário da Estremadura tem a sua maior representação. A bacia está repleta de
sedimentos cuja idade se estende desde o Triássico Superior e está incluída na
família das bacias marginais atlânticas, que tiveram a sua origem na distensão
Mesozoica e posterior abertura do oceano do Atlântico Norte.
O Maciço Calcário da Estremadura (Fig. 2) está representado quase totalmente pelo Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros e situa-se entre a Estremadura e o Ribatejo. Constitui uma barreira natural elevada, que separa os baixos-relevos do litoral às planícies da fértil bacia sedimentar do Tejo. Divide-se entre os distritos de Leiria e Santarém e abrange áreas parciais dos concelhos de Alcanena, Alcobaça, Ourém, Porto de Mós, Rio Maior, Santarém, Torres Novas, compreendendo 32 freguesias numa área de aproximadamente 35.000 hectares.
O Maciço divide-se em quatro zonas distintas: Serra do Aire, Serra dos Candeeiros, Planalto de Santo António e Planalto de São Mamede. A separar estas quatro áreas elevadas, encontram-se duas grandes cristas tectónicas - as depressões de Mendiga (orientadas NNE-SSW) e Alvados e Minde (NW-SE). Possui a maior representação e extensão das rochas calcárias do Jurássico Médio em Portugal, o que permitiu o desenvolvimento de vários fenómenos de carstificação, cuja caracterização é específica destas rochas carbonatadas.
São famosas as estruturas subterrâneas relacionadas com as grutas de Santo António, Mira de Aire, Moeda, Alvados e Algar do Pena.
Em relação a testemunhos paleontológicos,
merecem referências os icnofósseis de dinossauros do período Jurássico localizados
na Pedreira do Galinha, junto à aldeia do Bairro.
Destacar a natureza dos depósitos evaporíticos de sal gema que emergem numa estreita faixa de origem tectónica entre Rio Maior e Porto de Mós com destaque para a salina ativa da Fonte da Bica.
Em Rio Maior para além da exploração de sal, também em tempos se explorou alguns depósitos de carvão, hoje abandonados como exemplo a Mina do Espadanal que explorava o Lignito.
Pedreiras de Basalto
Na mesma faixa tectónica assinalada a vermelho no mapa geológico do Maciço Calcário (Fig. 3) e a norte de Rio Maior na Portela da Teira, emergem rochas basálticas no seio do calcário. O basalto é explorado ativamente pela pedreira da Serra do Outeiro e pela pedreira da Pena presentemente desativada. A visita a estas pedreiras justificou-se para a procura de zeólitos, devido ao contacto entre o basalto e o calcário. Em ambas as pedreiras observou-se não haver vestígios de zeolitização, contudo na pedreira da Pena é de assinalar geologicamente a apresentação da disjunção colunar do basalto.
Pedreiras de Calcário da Serra dos Candeeiros
A importância económica das rochas calcárias como ornamentais ou como matéria-prima para a indústria de construção, faz com que a zona do Maciço Calcário da Estremadura seja muito procurado para a concessão de pedreiras. São cinco as áreas principais onde a atividade mineira se desenvolve: Zonas do Pé da Pedreira, Moleanos, Codaçal, Alvados e Fátima. As quatro primeiras estão abrangidas pela área do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros. Dada a complexidade e densidade das pedreiras ativas no Maciço e o facto das representações cristalográficas mais interessantes de Calcite serem quase inteiramente específicas de calcários dolomíticos ou calcários com bancadas espáticas, este estudo é focado em explorações com estas características geológicas na Serra dos Candeeiros, localizadas quase na totalidade no concelho de Rio Maior do distrito de Santarém e cujos acessos são facilitados pela estrada N-1, que contorna a totalidade desta Serra.
1 - a) Pedreira do Vidro
1 - b) Pedreira Vale Rodrigues.
2 – Pedreira Vale Loureiras.
3 – Pedreira Cabeça Gorda.
4 – Pedreira Cabeça da Chã.
5 – a) Pedreira Srª. da Luz
5 - b) Pedreira Tecnovia.
Aviso: Quem pretende visitar estas pedreiras é sugerido pedir autorização de acesso para recolha de amostras. As autorizações dificilmente são concedidas por questões de segurança, pois as frentes das pedreiras de calcário são locais extremamente perigosos onde são frequentes os deslizamentos de pedras, bem como o manuseamento de explosivos nestes locais que invariavelmente não deflagram e ficam por vezes expostos após o desmonte do calcário.
1 - a) Pedreira do Vidro
Passando a aldeia de
Moita do Poço em direção à Serra, a Pedreira do Vidro é uma antiga pedreira de
calcite que se localiza à esquerda do caminho de acesso à pedreira ativa de
Vale Rodrigues. Esta pedreira situa-se já no concelho de Alcobaça do distrito
de Leiria. É um clássico da mineralogia portuguesa devido à representação
estupenda dos cristais de calcite. Como o nome sugere teve um período ativo de
exploração durante a década de setenta do século passado na extração de calcite que na época era utilizada para vitrificação de cerâmica. Presentemente é proibido recolher cristais de calcite nesta pedreira desativada, pois a mesma foi legislada como património geológico e por conseguinte está sujeita a fiscalização pela GNR do ambiente.
Geologicamente esta pedreira apresenta-se com uma
impressionante bancada de calcite no meio do calcário e que está provavelmente
relacionada com uma falha secundária assinalada no mapa geológico junto à
povoação da Moita do Poço. Durante a exploração, esta bancada de Calcite foi
desmontada manualmente em alguns locais, onde localmente apresenta inúmeras
cavidades com cristais de Calcite.
As cavidades maiores apresentam indivíduos
cristalizados com dimensões consideráveis. Ao longo do tempo a propriedade
cristalográfica foi sendo removida e presentemente a maioria das cavidades estão
vazias.
A cristalização característica desta pedreira apresenta-se em grupos cristalográficos paralelos de escalenoedros com cor branca acinzentada ou melada. Em alguns lugares os cristais apresentam crescimento zonado ou biterminados em múltiplos indivíduos. Os cristais flutuantes de cor melada são extraordinariamente belos e estéticos e são cobiçados por colecionadores de minerais.
1 - b) Pedreira Vale Rodrigues
Passando a Pedreira do Vidro que se encontra à esquerda do caminho, a entrada da Pedreira Vale Rodrigues situa-se em frente. Esta pedreira ao longo dos anos tem laborado numa zona de calcário pobre em cavidades e foi sendo menosprezada na procura de cristais de calcite por esse motivo. Em meados de 2023 a frente de trabalho avançou para sul num calcário diferente e abriu uma cavidade enorme com cristais de calcite. Entretanto a frente avançou e a cavidade foi engolida na exploração frenética para britagem do calcário.
Os cristais são parecidos com os da Pedreira do Vidro em que os escalenoedros apresentam-se mais brilhantes e limpos e as faces mais bem definidas. As cores vão do melado fumado ao cinzento com impregnações. Verificou-se cristais excecionais biterminados com 50cm e algumas maclas.
2 - Pedreira Vale Loureiras
Passando a povoação do Alto da Serra para norte, encontra-se à direita um caminho de acesso ao cume da Serra dos Candeeiros onde se situa um parque eólico. Após cerca de 2km, este caminho dá acesso às pedreiras ativas: (4) – Pedreira Cabeça da Chã, (3) – Pedreira Cabeça Gorda e (2) - Pedreira Vale Loureiras, a qual explora algum calcário dolomítico em agregados para construção por desmantelamento em bancadas.
Entre as três pedreiras é a de menor envergadura, porém apresenta algumas cristalizações interessantes. Em meados de 2020 a frente de trabalho da bancada inferior parou devido a abertura de uma cavidade natural com alguma envergadura. A pedreira é caracterizada por cristalizações trigonais, às vezes com cristais grandes. Também em grupos de prismas hexagonais curtos e, mais raramente, em pequenos escalenoedros.
3 - Pedreira Cabeça Gorda
A pedreira Cabeça Gorda tem uma envergadura impressionante em profundidade com várias bancadas de desmonte. Explora o calcário em agregados
para construção, o qual é transportado até à britadeira localizada na pedreira Cabeça da Chã onde é processado em brita. Por motivos de segurança o perímetro e a entrada desta pedreira encontram-se vedados.
Em Setembro de 2004 numa frente de trabalho, surgiu uma cavidade de tamanho considerável forrada com cristais escalenoedros até 10 cm de cor melada e que forneceu algumas drusas excecionais dente de cão para qualquer museu.
Como informação a drusa com 50x45x30cm está presentemente no Museu de História Natural de Lisboa.
4 - Pedreira Cabeça da Chã
A pedreira Cabeça da Chã abrange uma área significativa de
exploração de calcário em agregados para construção e tem frentes de trabalho
que por vezes desmontam calcário dolomítico. O calcário apresenta por vezes algumas
cavidades cristalográficas onde as representações são ricas e diferenciadas. Esta pedreira presentemente tem as frentes de trabalho encerradas e o perímetro vedado por ter chagado ao limite de área da concessão. O recinto desta pedreira continua a funcionar para processamento de calcário proveniente da Cabeça Gorda.
Os cristais de calcite apresentam-se em prismas hexagonais curtos e longos e por vezes torcidos. Os cristais "cabeça de cravo" são característicos desta pedreira. Aparecem também cristalizações do tipo trigonal, escalenoédrico e combinações. A coloração da calcite e de acordo com o calcário, apresentam cores esbranquiçadas, amareladas ou meladas.
5 - a) Pedreira Srª. da Luz
A pedreira da Senhora da Luz localmente situa-se
no Vale da Pedreira. O acesso faz-se dentro da povoação do Alto da Serra para
W, passando por cima do IC-2 e descendo para o vale. Aqui é explorado o mesmo
tipo de calcário em agregados para construção através de bancadas de desmonte,
que abrange uma vasta área do vale onde para sul confina com a pedreira Tecnovia. Presentemente a pedreira Srª. da Luz deixou de laborar o calcário para britar e está a laborar uma frente W no desmonte em blocos.
O calcário desmontado em blocos não apresenta ou raramente apresenta cavidades cristalográficas. As representações de calcite são das frentes de trabalho mais antigas ricas em cavidades. A representação característica é escalenoédrica com cristais bem definidos até 10 cm ou mais. Os cristais biterminados e as maclas são comuns. Apresentam-se com cores meladas escuras e claras e para todos os efeitos os melhores exemplares são dignos de serem apreciados em qualquer vitrina de coleção.
5 - b) Pedreira Tecnovia
O acesso à pedreira da Tecnovia faz-se através da N-114 após passar por baixo do viaduto do IC-2. Esta pedreira pela imponência rivaliza com a pedreira Cabeça Gorda pela dimensão e profundidade das bancadas de desmonte, onde o calcário também é processado em agregados para construção (brita). O calcário do Vale da Pedreira é rico em cavidades, como o demonstram as frentes de trabalho na Tecnovia.
Estas frentes estão focadas a W do vale, pois do lado oposto da pedreira o desmonte chegou ao limite da concessão.
As representações cristalográficas são escalenoédricas com cristais bem definidos que podem atingir grandes dimensões. As maclas e os cristais biterminados são comuns e os cristais apresentam-se em colorações amareladas e meladas, podendo apresentar impregnações de micro cristais de pirite.
Martins da Pedra
Referências:
António Manuel Ináçio Martins - The Calcite of Estremadura Limestone Massif (mindat.org)